7.15.2010

Crise de identidade (spoiler)



















Mad Men é uma série sobre a identidade. A constatação é por demais genérica e pode ser aplicada a muitas outras coisas: séries, filmes, livros, etc. Mas a questão da identidade é algo que ciclicamente abre uma brecha na superfície impecável de Don Draper e nos põe a olhar para dentro dele. Draper procura desde sempre manter-se longe da sua existência anterior cuja memória está guardada numa caixa a que só ele tem acesso. Até ao dia em que por descuido dele Betty abre a caixa e começa a juntar as peças que formam uma identidade de Draper que lhe era de todo desconhecida. E se Don deixa de ser a pessoa que Betty pensava que ele era, Betty também já não se reconhece a si própria na nova condição. O confronto dá-se no 11º episódio da 3ª época, que recupera essa faculdade tão difícil de obter com as imagens que é dar a "ver" o pensamento das personagens, algo de recorrente nesta temporada de Mad Men em que as possibilidades de infidelidade do casal protagonista estão no centro dos acontecimentos. Por que trai ela? Por que trai ele? A culpa associada às acções de ambos acompanhada do desejo de fuga. Mesmo quando não se questionam sobre quem são, quer Don quer a sua mulher Betty parecem procurar situações em que possam ser quem eles quiserem. Nada mais moderno e mais próximo de nós do que esta inquietação. No final do episódio, o casal acompanha os filhos nos festejos do Halloween (festa americana das máscaras por excelência, que a inteligência desta gente não dorme nunca) e quando batem na porta de um vizinho este pergunta às crianças quem elas são? Os miúdos dizem-lhe que são a cigana e o vagabundo, ao que o vizinho responde, dirigindo-se aos pais: "E vocês, quem são?" Fade to black. Novo abismo.

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