5.31.2010
O amor natural
Quantos espectadores terão reparado em Salt de Arto Lindsay que surge por momentos no filme de Luca Guadagnino? É quando Emma Recchi se dirige à lavandaria para levantar um casaco do filho e encontra no CD lá deixado esquecido a foto da apaixonada da irmã de Edoardo, acompanhada da confissão escrita desse amor. E mais tarde quando a senhora Recchi, regressada do idílio carnal com o cozinheiro Antonio, põe a tocar uma faixa do mesmo disco.
Quantos terão relacionado o cabelo apanhado em caracol de Emma Recchi quando esta persegue o cozinheiro pelas ruas de San Remo, com o Vertigo de Hitchcock onde é o homem que persegue uma mulher que traz o cabelo penteado dessa maneira? E ainda me pareceu escutar uma música de David Sylvian por ocasião da festa em que se anunciava o noivado de Edoardo Recchi... Estes detalhes são reveladores do extremo bom-gosto e da capacidade de cruzar múltiplas referências evidenciados por Luca Guadagnino em Io Sono L'Amore. Pena que à medida que o filme se encaminha para o trágico desenlace, o realizador italiano abuse do tempero (a que não é alheia a utilização excessiva das partituras magníficas do norte-americano John Adams).
Guadagnino de algum modo se deslumbra com o seu próprio virtuosismo, na primeira metade do filme bem mais controlado. Apesar do derradeiro e tão misterioso plano, que irrompe pelo genérico final, dando a ver a silhueta dos amantes no que parece ser uma gruta. Eternamente refugiados no espaço do seu amor natural.
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