5.10.2010

Fogo de artifício















De acordo com a minha experiência de ontem, Dillinger bem que podia ter sido morto pelos foguetes do Benfica. Quando ele vinha a sair do Biograph Theater, perseguido pelos agentes do FBI camuflados na multidão, no momento em que o tiro da arma de Winstead lhe perfura o crânio, logo seguido por um conjunto de outros disparos, fazia-se a festa do título bem audível no Marquês de Pombal. Eu redescobria o filme de Michael Mann que mais próximo está daquele que já não estou seguro de continuar a admirar acima dos outros todos. Falo de Heat - Cidade sob Pressão, cujas linhas de força são idênticas às de Inimigos Públicos. O tom elegíaco no modo como se dá a ver uma ética à prova de fogo das principais figuras masculinas (que são da mesma espécie, como Mann explica ao comentar a derradeira cena deste filme), de ambos os lados da lei, e de como isso vira tragédia quando as obriga a abdicar de tudo o resto em função dos resultados: roubar ou prender. Viver e matar. Só consigo ser verdadeiramente objectivo (mesmo que em parte) quando vejo um filme mais que uma vez. Por isso digo e repito que para mim é mais decisivo o desejo de regressar a certos filmes do que a impressão deixada da primeira vez que os vi. E foguetório à parte, Inimigos Públicos ontem pareceu-me uma obra-prima. Da mesma espécie de Heat mas passando-se nos tempos da grande recessão.

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