2.10.2010

Pop em papel bardo
























Porque penso ter condições de opinar sobre o novo Magnetic Fields, que há algum tempo escutei a acompanhar um jantar, e só hoje ouvi em pormenor, uma única vez, nuns auriculares baratuchos dos que se arranjam em qualquer lado? É que sendo pop e não pop, Realism larga a barreira sonora de distorção do álbum anterior ao mesmo tempo que recupera para a estrutura das canções aquilo que relacionamos com o trabalho recente de Stephin Merritt: em nome próprio, Showtunes (2006), ou nos Gothic Archies, The Tragic Treasury: Songs from A Series of Unfortunate Events (2006). Podem ser sobras, alguns dirão. O disco defenderá o seu conceito com base na recusa dos sintetizadores que podiam soar aberrantes a acompanhar estas proto-valsas e outras canções que na base parecem parentes distantes das danças barrocas, ou então fragmentos de empatizar com os males de amor enquanto esperamos que nos sirvam "just the one". Produção ultra-cristalina, percussões exótico-cantabille, vozes angelicais que sobem a custo para melhor tombar em falso, ou que começam languidamente por baixo e de lá não arredam (Merritt tornou-se um ícone do aborrecimento). Realism é wallpaper sonoro para escutar melhor em fundo. Prende menos a atenção do que perfuma os sentidos. Tem charme de caixinha de música encantada, e é juntamente com I aquilo que os Magnetic Fields produziram de mais próximo da experiência que é vê-los ao vivo. Realism talvez seja isso mesmo. Os Magnetic Fields sem truques de estúdio. Como talvez sempre tenham querido ser apreciados, com o seus anacronismos de câmara e toda uma pose blasé.

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