2.13.2010

ECM, 40 anos

A ECM completou 40 anos de edições discograficas – com alguns DVD's e livros muito esporádicos – no final de 2009. Temos quase a mesma idade e a minha vida tornou-se inseparável dos discos produzidos por Manfred Eicher. Como será viver sem a música da ECM? Não sei, nunca experimentei. E embora me tenha afastado do contacto regular com as edições e audições de música jazz, eu quero sempre saber e ouvir aquilo que a ECM edita. Temos forte empatia estética, eu e ela. As suas capas traduzem logo este universo sonoro: nocturno, poético, introspectivo. Os discos da ECM são os que mais gosto de ter por companhia quando faço quase tudo, e até quando nada faço a não ser escutá-los (facto raro). O "som" ECM diz-se a coisa mais bela depois do silêncio. Os seus discos podem bem ser a melhor companhia depois da solidão. É para isso que existem. Para nos permitirmos estar a sós com eles. Ultimamente, com estes:



















Em Dark Eyes, Tomasz Stańko surge em companhia totalmente renovada para que tudo se mantenha na mesma. Não mais o trio do pianista Marcin Wasilewski que com Tomasz Stańko formava o quarteto polaco, os músicos são agora de predominância nórdica. Mas o som, amplo e lírico, é duzentos por cento Stańko.



















Quando descobri A Year From Easter (2004), do Christian Wallumrød Ensemble, tive um dos surpreendentes encontros proporcionados pela ECM. Havia ali uma estranheza que tinha bastante a ver com o perfil musical da editora, mas também com coisas que vinham de outros lados. Nunca escutei os discos que Wallumrød gravou para trás na ECM. Daí para a frente é que nada me escapou, e a sensação de estranheza mantém-se neste Fabula Suite Lugano: obsessão tímbrica e atracção pela possibilidade de fazer música estática.




















Guardei para o fim a jóia mais facetada do lote. Homenagem de François Couturier - que já havia dedicado todo um CD, Nostalghia - Song for Tarkovsky, à obra do cineasta russo – a um conjunto de seus heróis das artes: Bach, Rimbaud, Debussy, Schubert, Miró, e de novo Andrei (e o pai deste, Arseni) Tarkovski. Un Jour Si Blanc é constituído por vinhetas impressionistas expontâneas, peças em diversos movimentos, e explorações estruturadas. Mas é sobretudo um disco que denota grande liberdade de criação e de agregação do repertório, uma liberdade dirigida para as pulsões mais interiores do pianista, não absolutamente solo, porque invocando os seus melhores espíritos.

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