6.23.2008
Viva Albert Cossery
Cheguei a recear não ter notícias da morte de Albert Cossery (3 Nov. 1913/22 Jun. 2008). Ficaria eternamente à espera do próximo livro, e a fazer contas do número de anos passados sobre a publicação do último. Diz-se que Cossery não escrevia mais de uma frase por dia. Uma vírgula acrescentada a tão aristocrática média seria ceder em relação a todo um universo. O universo dos seus livros (editados em Portugal pela Antígona; BRAVO Luís), de uma sobriedade de estilo exemplar. Cossery foi das grandes descobertas que fiz na literatura. Tenho muito pouco a ver com a geografia dos seus títulos - sobretudo ruelas degradadas do Cairo, habitadas por gente anónima que sobrevive sem dramas porque nada deseja. Ou antes, deseja o nada. O ócio e pequenos prazeres da carne, se isso não obrigar a escusado esforço. Isto é invejável, nem sequer chega a ser insolente. Trata-se apenas de ignorar o "mundo", tal como o "mundo" nos ignora a nós. Cossery morreu. Viva Cossery.
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