6.27.2008

Entrar em pânico


















Tenha medo. Tenha muito medo. É cada vez mais frequente cobrar-se ao cinema a falta de profundidade dramática, do escarafunchar da complexíssima mente humana, que tem sido explorada pelas melhores séries televisivas. Grosso modo, o público crescidinho teria largado a sala grande e a sua aparentemente infindável galeria de super-heróis, em favor das existências torturadas das personagens dos canais independentes por cabo. Eis-nos então perante The Savages/ Os Savages, família disfuncional reduzida ao patriarca ausente e à beira da demência, e a dois irmãos (os estupendos estupendos estupendos Philip Seymour Hoffman e Laura Linney) qual de ambos mais constrangido perante a estranheza dos sentidos da vida. O filme não podia ter melhor filiação. Se a figura de Seymour Hoffman é remeniscente do professor recalcado da obra-prima de Spike Lee, A Última Hora, Laura Linney interpreta a variante do seu personagem de You Can Count On Me, de Kenneth Lonergan, onde desempenhava o papel de mulher de meia idade com a vida sentimental resignada ao caos, que se reunia com o irmão mais ou menos omisso para concluir que é no interior do turbilhão familiar que descobrimos as razões objectivas que explicam porque somos do modo que somos. Os Savages, percebe-se pelo tom, traz bem vincada a assinatura do seu produtor, Alexander Payne (Election, About Schmidt, Sideways), naquilo que de novo resulta no registo entre o sarcasmo e a melancolia, o melhor que o cinema adulto americano vem mostrando em anos recentes. A independência define-se pela revelação de um olhar (não fazia a menor ideia de quem era Tamara Jenkins, a realizadora), individual e totalmente descomprometido para com os requisitos dos produtos formatados para as massas. Aqui não há lugar a qualquer espécie de redenção. Somos seres imperfeitos, acumulamos vícios, caprichos a que conduz o nosso modo de vida solitário e egoísta, e vivemos com dificuldade a degradação imposta pela passagem do tempo. O melhor cinema americano (para não generalizar em demasia) filma a vida como oportunidade perdida. Não perca este filme. Um lançamento LNK, directamente para DVD.

Blockbomba, este é para ti.

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