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Passei muito tempo em casa este fim-de-semana. Estes álbuns passaram repetidas vezes, trazendo detalhes à superfície de cada vez que sobre eles mergulhava a atenção. Gosto de ouvir música assim, descomprometidamente. O interesse dos discos ditando o tempo que se eternizam no leitor. Com várias leituras de permeio. Quanto à própria matéria da música, foi tempo de recuperar o terceiro volume da trilogia berlinense de Bowie, Lodger, que ao contrário dos dois primeiros - onde o território instrumental estabelecia uma zona de fronteira e os mais que prováveis lado A e lado B - opta pela alinhamento convencional de canções que atestam o quanto Bowie foi a mais camaleónica das estrelas pop. Brilhante. Tempo para escutar pela primeira vez o terceiro disco dos Roxy Music, Stranded. Não menos camaleónico (as afinidades compreendem-se), aquele que Brian Eno destaca de toda a discografia da banda. Tendo em conta que Eno já não estava a bordo, é um enorme (e merecido) elogio. Também Think Tank dos Blur, que sempre soube que um dia havia de ter. Chegou o momento, ficou baratinho. E mais valioso ainda, na medida em que no disco se nota o ascendente Damon Albarn (Coxon estava de saída) e o interesse deste pelas músicas do Oriente. Foi gravado em Marrocos e conserva o fascínio que o imaginário do deserto pode suscitar mesmo naqueles que não suportam um grão de areia: a atracção pelo exótico, ou até pelo abismo. O grão da música que os Blur aqui apresentam é tranquilamente majestoso. E para o fim deixei o último Bonnie Prince Billy. Elogiado por gente cuja opinião respeito. Tive um arremedo de originalidade ao fim da primeira escuta, rápida e parcial. Parecia-me dispensável. Não sei agora se me é indispensável ou não, apenas que se trata de um muito bom disco como quase toda a discografia de príncipe Will Oldham. Os duetos são magníficas canções de "love and hate", e tem surpresas realmente inesperadas como a inclusão do solo de clarinete numa das músicas.