8.14.2006

Poeira












O filme de Robert Towne que acaba de estrear é um desperdício de talento. Digo isto com certo pesar uma vez que se trata do argumentista de méritos que fizeram história (Chinatown, The Yakuza, The Last Detail) e do realizador do muitíssimo estimável Tequila Sunrise. Já este Ask the Dust, A Poeira do Tempo, embora cuidado até ao mais pequeno detalhe, falha, surpreendentemente, no mais inesperado: a história. A Poeira do Tempo tem problemas de ritmo do início ao fim, a narração do protagonista é sempre incómoda, os secundários pouco desenvolvidos parecem pertencer a um universo de nostalgia surrealizante (a fazer lembrar Barton Fink ou King of the Hill), embora Towne se mostre indeciso face ao tom que o filme deveria ter. E depois há problemas sérios de montagem, com a articulação entre diferentes tempos e momentos a revelar-se canhestra. Parece um filme amarrado à reconstituição, uma peça de museu, uma natureza morta. Tanto mais de lamentar porque passa sinais de que podia a todo o momento ser outra coisa que não o objecto que algures (entre o instante em que Towne desejou fazê-lo e, muitos/ demasiados anos depois, teve a oportunidade de concretizá-lo) se perdeu.

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