8.21.2006

Maio, maduro Maio













Em Os Amantes Regulares, a evocação poética da geração que fez o Maio de 68 cedo mostra a sua face de desencanto. É nos momentos de confronto com as forças da autoridade que os personagens do filme de Philippe Garrel se sentem mais vivos. Daí para a frente instala-se o torpor do ópio e o isolamento a que cada um deles se remete, ainda que no interior da mesma casa – tal como no recente Last Days de Gus van Sant. Os Amantes Regulares é objecto de escassos afectos. Mas a câmara de Garrel olha-os com um misto de nostalgia e, passe o pleonasmo, empatia: o cineasta sabe agora que tudo invariavelmente chega ao fim – das juras de amor aos propósitos revolucionários. Garrel envolve ainda Os Amantes Regulares num preto-e-branco cheio de memórias cinéfilas, de Griffith a Cassavetes, do expressionismo mudo ao cinema underground na transição da década de 60 para a seguinte. Pena que o estereótipo do cinema de autor a que o filme se propõe obedecer cegamente, tenha perdido o sentido do quanto podia beneficiar com umas boas tesouradas na duração. O tempo dos sentimentos (em perda) de Os Amantes Regulares dispensava parte das suas quase três horas que, acreditem, não passam “a correr” (F.F. dixit); e a redundância das curtes opiáceas em casa de Antoine, a partir de certa altura nada acrescentam. Para que Os Amantes Regulares fosse melhor filme, teria que ter havido alguém junto de Garrel no momento da montagem para lhe dizer que por muito que lhe custasse libertar-se de algum daquele material, para o espectador anónimo isso em nada afectaria a relação com o filme. Assim, face à abundante condescendência autorística do francês, Os Amantes Regulares funciona melhor como um objecto para o qual se olha (da estética) mas que, no fluxo contínuo, menos suportavelmente se vê (da economia narrativa).

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