6.08.2006

Linhas da beleza















Cumpridos dois terços do programa, é seguro afirmar que A Linha da Beleza não frustrou as expectativas criadas com o episódio de estreia. A série, tal como o livro (imagino!), opera uma bem sucedida variação sobre Brideshead Revisited de Evelyn Waugh (que deu origem a uma das melhores séries televisivas de todos os tempos) na medida em que o desencanto se abate de novo sobre aquele que persiste na demanda de uma relação estética com o mundo. Nick Guest é a versão actualizada para a década de 80 de Charles Ryder, primeiro deslumbrado com o universo das famílias de tradição aristocrática e conservadora e os espaços em volta repletos de Arte e de História, e progressivamente desapontado com a infiltração que este mundo sofreu por parte do dinheiro novo e dos interesses puramente económicos alheios a uma conduta ética (em Brideshead a questão era ainda assim significativamente outra e tinha que ver com o fim de um mundo de que em A Linha da Beleza sobram apenas rumores e partículas). Além de que a sua condição de homossexual assumido (já não como o Ryder de Evelyn Waugh mas como o melhor amigo deste, Sebastian Flyte) o remete cada vez mais para uma condição de auto-exclusão quando não de marginalização pura e simples: o novo dinheiro renovou com preconceitos e hipocrisia alastrados a todos os estratos sociais. Nesta medida a transferência de realidades dos tempos de Brideshead, entre as duas Grandes Guerras, para os da governação Thatcher é feita sob o efeito de perda - perda da valorização do belo fora de uma lógica de ostentação. Prevejo deste modo que Nick acabará por se tornar tão estranho ao meio que inicialmente o fascinou, tal como os livros de Henry James que aquela gente terá deixado de cultivar a pontos de fazer do autor um estereótipo. Ninguém, a não ser Nick, quer ali saber o que quer que seja sobre beleza e as linhas que a constituem. O episódio de ontem chamava-se To Whom Do You Beautifully Belong? Haverá resposta na próxima semana?

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