6.16.2006
Demonlover
Quando Olivier Assayas pós-produzia Demonlover deu-se o ataque ao World Trade Center. O making-of do filme mostra as Torres Gémeas em chamas e em chamas viria a encerrar Demonlover: antes que a protagonista, Diane (espantosa Connie Nielsen), fosse encerrada no mesmo site de tortura e morte que ao longo da história desperta a cobiça de duas empresas de distribuição de animé pornográficos. Assayas partia para este filme depois de ter completado Les Destinées Sentimentales e achava-se encerrado no espartilho do cinema francês estereotipado: no caso, académico e de caução literária. A manobra de fuga não podia ser mais radical. Demonlover situa-se próximo do universo de Cronenberg - do Cronenberg de Videodrome e eXistenZ - e da ficção científica que os amantes de FC gostam. É abstracto como os melhores animé (por exemplo, Ghost in the Shell), tem música igualmente abstracta e original (cortesia dos Sonic Youth e cujo processo de criação podemos acompanhar noutro extra do DVD), onde parecem não existir fronteiras na paisagem terrestre - o filme passa-se entre Japão, França e México - e onde parecem não existir relações humanas tal como ainda hoje as concebemos. Se Demonlover é filme premonitório de alguma coisa, essa coisa é o fim do amor. Cada vez mais sugados para o universo da gratificação virtual, os personagens de Assayas têm motivações que não vão além da espessura das figuras dos jogos de vídeo. É o triunfo de uma lógica puramente competitiva onde o desejo vagueia moribundo. Assim, o futuro será também o melhor juíz deste filme de Olivier Assayas. Intrigante e de estranha beleza.
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