Quando se tem o coração acertado pela “kuarismakilândia” é difícil não ser conquistado por qualquer dos títulos do finlandês. Não há filmes de Aki Kaurismäki de que goste mais que os que se passam em Helsínquia ou arredores, pois nada serve tão bem o seu cinema como a fisionomia e a língua dos conterrâneos. Sucede também que o imaginário convocado pela palavra “kaurismakilândia” deu provas várias de poder ser exportado, o que não desvirtua quer em termos poéticos quer plásticos este cinema anacrónico tão particular.
Mesmo um exercício de estilo ligeiramente desviado do resto da obra do autor como é Contratei um Assassino, cuja história é a do homem que estabelece um contrato para pôr termo à vida, situação que remete para o contexto do film noir, vai-se encaminhando para o território do melodrama à maneira de Aki Kaurismäki, onde a fragilidade e a solidão das vidas anónimas são investidas de dignidade e resignação, até que se prefigure algo da ordem da esperança que não chega nunca a ser um final feliz, apenas a possibilidade de continuar existindo num outro lugar. Isto para os que continuarão vivos, mesmo que tenham desejado muito a morte. Já os que não têm remédio, como o assassino que descobre ser portador de doença terminal, estão condenados à efemeridade dos insectos, demarcando-se destes pelas decisões tomadas no tempo que resta.
O assassino, que se confessa um homem falhado, é a grande personagem deste filme, uma sombra nas peripécias da vida de Henri Boulanger (Jean-Pierre Léaud), bem mais trágico no seu périplo obstinado porque a morte que lhe está destinada implicou um contrato de que foi parte excluída. Por isso o seu único tiro é tão significativo. Um disparo que dá a vida. Um momento que tinha que acontecer.
O assassino, que se confessa um homem falhado, é a grande personagem deste filme, uma sombra nas peripécias da vida de Henri Boulanger (Jean-Pierre Léaud), bem mais trágico no seu périplo obstinado porque a morte que lhe está destinada implicou um contrato de que foi parte excluída. Por isso o seu único tiro é tão significativo. Um disparo que dá a vida. Um momento que tinha que acontecer.