10.02.2012

Pequenas cretinices entre amigos




A pergunta que se impõe é: faz-se um filme duma colecção de vinhetas da juventude, melancólicas ou absurdas, em torno da problemática eterna dos relacionamentos, familiares, sentimentais e de amizade? O mais certo é acabar com uma bela colecção de cromos, o que pode dar no mesmo que um filme de formação, focado no que nos é mais próximo, filmado de modo pessoal. Tratando-se de Nanni Moretti, colheita de 1978, está garantido o registo pessoalíssimo. E como Moretti era já “uma figura”, com a sua trunfa de pajem revolucionário e o bigodinho indiciador de complexos muito particulares! Como o próprio afirma, num diálogo com Mirko (outra fisionomia particular, que podia ter saído do “evangelho” de Pasolini), no decorrer de uma das várias sessões de “autoconhecimento” de que iremos privar, “sou triste, tristíssimo mas sou teatral, vital”. E o cartaz de Buster Keaton no quarto de Michele Apicella (Moretti) não lá está por acaso. Nada surge por acaso para quem tem fama de filmar dezenas de takes de cada plano. É preciso minúcia para subverter de forma inesperada o imaginário romântico que ligamos à juventude (tanto sofrimento em vão), e ainda nos deixar com um sorriso timidamente esboçado. Como não se encontra justificação para os factos da vida, o título devolve-nos um enigma: Ecce Bombo.Filme sobre a dificuldade de mostrar emoções e lidar com os sentimentos. Seria um cliché não fosse original e pungente.

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