10.17.2012

Demasiado humano para ser papa




Humildade. De se colocar em causa. De aceitar que vivemos num mundo conturbado em que nada é garantido, e que devemos estar preparados para nos adaptarmos. Mesmo no universo particular da igreja, onde os rituais são fortes, o código rígido e as carreiras longas, a hipótese de algo poder ser perturbado na ordem expectável das coisas existe. Moretti por ele próprio (um psicanalista) faz entrar a vida na igreja, e pela personagem de Piccoli (o cardeal Melville) é a igreja que reentra na vida. Não se trata somente de um filme sobre a humildade mas também sobre a humanização do simbólico. De olhar o homem além do hábito, tão assustado como qualquer um de nós.
No fundo, Habemus Papam (2011) é um filme sobre dois homens que querem voltar a brincar. O plano mais comovente (para mim) é o de Moretti segurando a bola de vólei, constatando que o campeonato foi abortado antes das semi-finais. O papa relutante também queria brincar ao teatro (mesmo reconhecendo que talento dramático quem tinha era a sua irmã), e acabará cercado pela comitiva eclesiástica na noite de estreia da peça que ajudara a produzir. A sociedade força-nos a crescer e tolhe-nos a liberdade de sermos quem queremos ser. Filme estranho e estranhamente brilhante.

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