8.17.2012

O último a morrer

A década abriu com 'Goddfellas' (1990), de Martin Scorsese. Depois veio 'Carlito's Way', o melhor de todos os De Palma, de 93, o ano de 'A Bronx Tale', estreia de Robert De Niro atrás das câmeras. Em 1995 Scorsese realizava 'Casino', e em 97 o inglês Mike Newell infiltrava-se, tal como o seu herói, Donnie Brasco, no universo dos "wise guys". Foi parar à série Harry Potter que é para aprender! Grosseira injustiça feita a um filme que não merece ficar tapado pela boa vizinhança. A versão recente que vi, aumentada em cerca de 20 minutos, talvez mais sangrenta que a montagem comercial, o que não posso garantir pois a memória do primeiro visionamento está demasiado distante, remeteu-me de imediato para o filme de De Palma, que em comum com 'Donnie Brasco' tem a música de Patrick Doyle e um Pacino em topo de forma. Mais importante ainda: o desejo íntimo de Benjamin Ruggiero (Lefty) é igual ao de Carlito Brigante; pegar na mulher que ama e ir para um qualquer lugar distante. São logo à partida figuras trágicas e isso traduz-se na força do destino que se impõe sobre a vontade delas. Não tinha de ser à força um americano, ou italo-americano a dirigir 'Donnie Brasco'. A máquina de produção estava lá, o magnífico argumento de Paul Attanasio tocava as notas certas, fazendo melhor uso do "calão" que é como uma segunda pele, e Newell limitou-se a servir a história com a sua sensibilidade formada numa cultura diferente mas próxima, que afinal é o segundo berço da tradição narrativa ocidental: depois dos Gregos Shakespeare é o modelo trágico por excelência. Viva 'Donnie Brasco'. Fuggetaboutit.

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