À Nos Amours (1983) filma um corpo que irradia sensualidade a que corresponde um rosto que diz nada. Uma rapariga que se dá a vários homens e que a nenhum se entrega. O único que parece incomodar-se é o namorado com quem a vemos de início. Carente e inseguro, pergunta-lhe se ela se aborrece na sua companhia? Separam-se ali e a rapariga vai ter com outros. Amar não é com ela e o filme de Pialat não dá explicação para este impedimento. Podemos querer vê-la no fracasso da relação entre os pais (Maurice Pialat interpreta o pai de Suzanne, interpretada por Sandrinne Bonnaire revelada neste filme) que se agridem constantemente. Naquela casa todos quatro (existe ainda o irmão mais velho) andam à bofetada. O pai é quem melhor percebe Suzanne mas não deixa de criticar o seu comportamento. A dada altura sai de casa e mais tarde faz uma visita breve por ocasião de um jantar dos filhos com amigos. É como se um tornado de cinismo irrompesse pela sala para denunciar a hipocrisia vigente. Pialat, personagem ou realizador, não propõe qualquer moral alternativa. O seu cinema é o das coisas que são como são. Sempre em estado de confrontação. O momento sempre no presente, brutal e em bruto. Há muito tempo que não visitava o meu mais estimado realizador europeu. Não é obra com que me apeteça confrontar assiduamente. Pialat filma-nos como somos. Há o gume do cinismo e um resto de demasiada realidade.
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