3.26.2012
Que viva México!
Kaurismäki fez já o filme em que eu mais gostava de ter entrado. Chama-se Ariel (1988) – em parte "filme de prisão" –, também nome do barco que no final levará o protagonista, a mulher e o filho dela, para melhores dias, no México, do que os vividos quando Taisto se mudou do interior para a grande cidade. Aki Kaurismäki tem alternado optimismo e pessimismo, humor e tragédia, quando se trata de filmar. Há nalgumas ocasiões a intuição de uma vida melhor além do arco-íris, seja lá qual for o exótico destino onde este se digne aparecer. O arco, aliás, começa por se desenhar no carácter exemplar das suas principais figuras, gente honesta que é vítima das circunstâncias geradas por outros. Não têm ninguém por elas, a não ser o poder ilusório do cinema. A mise-en-scène de Kaurismäki abre um horizonte de esperança para o que possa vir depois da última bobina. Os filmes desenrolam-se claramente do lado do cinema – na "kaurismakilândia" cultivada pela vasta minoria de "kaurismakiófilos" –, que valoriza o antigo e não perde tempo com as imagens modernas do mundo onde as razões do homem, e as suas fraquezas, não deixaram de ser as de sempre. O coração do finlandês é grande como o automóvel (uma banheira vintage tal qual as que Kaurismäki gosta de conduzir) herdado e mais tarde vendido por Taisto. O efeito cómico joga-se aliás na desproporção entre aquilo que a vida permite e o cinema torna possível. "Take the money and run" é apenas outra forma de escrever "bigger than life".
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