3.12.2012
O amor único
Em mais uma louvável iniciativa, a Gulbenkian deu a ver gratuitamente este fim-de-semana um conjunto de filmes portugueses apoiados pela instituição. Vi dois de entre os possíveis, mas só me apetece destacar um. E o Tempo Passa (2011) de Alberto Seixas Santos, que não terá ido além do par de semanas em exibição numa só sala de Lisboa. É um filme lúcido e obra de um resistente. Coloca-se do lado do cinema enquanto arte, e contra a televisão enquanto máquina produtora de esquecimento e solidão. É interessante tentar perceber, e exercício nada simples num primeiro visionamento, como Seixas Santos filma de modos diferentes o que está do lado da arte, ou do lado do pronto a consumir, ou ainda do lado mais frágil que é o da vida e suas memórias (dele realizador). Formalismos à parte, a diferença fundamental diz respeito aos riscos corridos. E o Tempo Passa é obra de risco, que se não os ganha a todos, ganha-nos a nós que nos descobrimos desarmados perante o seu grau de exposição: encontro de solidões respeitador das intimidades envolvidas. Cinema que não se confunde com outra coisa qualquer, infelizmente tratado com indiferença. Mas não pela Gulbenkian. Não por esta sessão que para o filme resgatou uma pontual e simbólica dignidade.
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