3.20.2012

O Arto subtil

















Comecei o dia com a mistura particular de ritmos brasileiros e art-rock em que Arto Lindsay se especializou – ele que é o mais nova-iorquino dos cariocas e o mais carioca dos nova-iorquinos – e que transportou para as discografias de David Byrne e Caetano Veloso, dois músicos a título de exemplo para percebermos até que ponto o Midas pode ficar na sombra daquilo em que toca. Não se encontram entrevistas recentes com Arto Lindsay e não se lhe conhecem discos em nome pessoal depois de Salt (2004). Vi-o no Porto, no Sá da Bandeira, nesse ano, e se bem recordo alguém referiu que aquele espaço tinha passado a exibir filmes "para adultos", o que nos pôs alerta em relação ao estado das cadeiras, contribuindo também para dar a nota decadente(-chique) que ia bem com o gingar suado sensual das composições de Arto, marcadas por um baixo de groove impecável e por electrónicas viscosas. O que se escutou e viu em 2004 seria tão moderno hoje como então. A mestiçagem é o futuro de tudo, não há volta a dar-lhe. Pena que Arto se tenha mais ou menos eclipsado para dentro dela. Como alguém que não quer ser encontrado, que se desloca contra a corrente, prosseguindo nos trabalhos de coadjuvante e produtor pelos quais será primeiramente recordado. O disco que começou o meu dia chama-se O Corpo Sutil (1995), tem no ano seguinte um gémeo em Sol na Cara, de Vinicius Cantuária (o mesmo som, músicos comuns, a produção de Lindsay, versões muito próximas de Este Seu Olhar, de Tom Jobim, em ambos), e uma canção muito especial que em poucos versos traduz "sutilmente" o impuro Arto: No Meu Sotaque, já a seguir.

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