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Elegia a um tucano morto
O sacrifício da asa corta o voo
no verdor da floresta.
Citadino
serás e mutilado,
caricatura de tucano
para a curiosidade de crianças
e a indiferença de adultos.
Sofrerás a agressão de aves vulgares
e morto quedarás
no chão de formigas e de trapos.
Eu te celebro em vão
como à festa colorida mas truncada
projeto da natureza interrompido
ao azar de peripécias e viagens
do Amazonas ao asfalto
da feira de animais.
Eu te registro, simplesmente,
no caderno de frustrações deste mundo
pois para isto vieste:
para a inutilidade de nascer.
Este foi o último poema de Carlos Drummond de Andrade, entregue pelo poeta ao dono do tucano morto. Uma lição de vida, talvez. Hoje foi o dia dele.