10.28.2011

A capacidade de se ser humano


























Nassim Nicholas Taleb numa ilustração para a New Yorker (2002)

Os aforismos, as máximas, os provérbios, os pequenos ditos e, até certo ponto, os epigramas são a mais antiga forma literária – frequentemente integrados no que agora chamamos poesia. Encerram a compacidade cognitiva do chavão (embora sejam quer mais poderosos quer mais elegantes do que a versão inferior atual), com alguma mostra de bravata na capacidade de o autor comprimir ideias poderosas em meia dúzia de palavras – particularmente num formato oral. Com efeito, tinha de ser bravata, porque a palavra árabe para um dito improvisado é «ato de masculinidade», embora tal noção de «masculinidade» seja sexualmente menos carregada do que parece e também possa ser traduzida por «as capacidades de se ser humano» (virtude tem a mesma raíz em latim, vir, «homem»). Como se aqueles que conseguem produzir pensamentos com esse poder fossem investidos de poderes talismânicos. (...) Nunca se tem de explicar um aforismo – como a poesia, é algo que o leitor necessita de enfrentar sozinho.
[p. 107/108]


Alguns aforismos retirados das partes que li de A Cama de Procusto, de Nassim Nicholas Taleb:

A pessoa que mais receamos contradizer somos nós próprios.

Se a sua raiva diminui com o tempo, praticou uma injustiça; se aumenta, sofreu uma injustiça.

A procrastinação é a alma a revoltar-se contra o aprisionamento.

É mais difícil dizer não quando realmente queremos dizer não do que quando não queremos.

Normalmente, chamamos de «bom ouvinte» a alguém com uma indiferença habilmente refinada.

A maioria das pessoas receia perder o estímulo audiovisual por ser demasiado repetitiva quando pensa e imagina coisas por si própria.

É difícil travar o impulso de revelar segredos em conversa, como se a informação manifestasse o desejo de viver e o poder de se multiplicar.

Amor sem sacrifício é como roubo.

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