7.29.2011

Uma dança nunca é apenas uma dança



Os filmes medem-se aos planos ao contrário da vida onde é bom não fazer planos, antes estar disponível para a surpresa enquanto se lida com o resto. Ocorreu-me esta celebração pateta e genial da felicidade do homem, de quando Jonathan Demme era um realizador surpreendente. O filme é Something Wild, que vi na adolescência (é de 86). Jeff Daniels está completamente babado pela excêntrica Melanie Griffith, que acompanha a uma reunião de liceu. A sua indumentária de ingénuo está perfeita: a gravatinha amarela com fantasia, o sapato branco de cordeirinho, e o resto é o rosto que o actor tem. Mexe-se imitanto os outros para parecer cool e a dada altura desinibe-se e até "moonwalka" como Michael Jackson. Os Feelies, no palco, tocam uma versão de Bowie. Os óptimos Feelies passam então a uma canção dos próprios, a guitarra fica nervosa, baixam-se as luzes e de fora de campo, sem compromisso da coreografia anterior que ditou a planificação a que assistimos, surge a figura ameaçadora de Ray Liotta, vestido de negro. Uma figura do passado dela, claro, que vem pôr em risco a felicidade do par. Tudo isto em menos de 3 minutos aparentemente banais. Menos de 3 minutos tão parvos e familiares a que a idade ajuda a encontrar uma poesia particular. No amor somos todos ridículos e isso é que é lindo. E muito mais lindo na vida que no cinema.

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