7.07.2011
Aos vivos
Os amantes do cinema tendem a desvalorizar a estreia na realização de Robert Redford, ocorrida em 1980 com Ordinary People, por este ter batido nas principais categorias dos Oscars uma obra-prima inquestionável como é Raging Bull de Martin Scorsese. Também eu se pudesse teria premiado Scorsese e o seu filme, o que não me leva a esquecer quão comovente e justo é o retrato que Redford dá da desagregação de uma família como outra qualquer, que não consegue lidar com a morte por acidente de um dos filhos, que conduz à tentativa de suicídio do outro.
Existem dois elementos de ordem extrema de sensibilidade e risco no filme de Robert Redford, e não me refiro a questões de forma que logo dá provas de ter dominadas com segurança (John Bailey vinha do aprendizado com Vilmos Zsigmond e Néstor Almendros e em 1980 assinava as suas primeiras direcções de fotografia, de que a outra seria no American Gigolo de Paul Schrader). O primeiro diz respeito àquilo que conhecemos ou desconhecemos uns dos outros, o que no mais profundo sentido da formulação pode depender das revelações trazidas por situações limite (que põem à prova o carácter). Do primeiro elemento decorre o segundo, na medida em que Robert Reford, partindo do guião de Alvin Sargent, desafia o biologicamente correcto quando filma a possibilidade dos homens da família aceitarem viver com os traumas recentes e seguir em frente, no que implica o afastamento da figura materna.
Ordinary People é a história de uma aparente harmonia que é interrompida – como se um acidente viesse perturbar a fluidez natural do Canon de Pachelbel usado no filme recorrentemente –, e que só poderá ser restabelecida com a saída do elemento que se auto-excluiu. Se para uns o luto faz-se com os que sobram, para outros os que ficaram são pálido reflexo e agentes da má memória de quem morreu. O filme de Robert Redford termina do lado dos que escolheram os vivos.
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