7.27.2011

Aceitar o mistério





Nunca vi de perto nada tão profundo como o rosto de uma mulher. Pelo que revela, todo o fascínio que sobre nós exerce, percebemos que há muito mais a descobrir, paisagens que nunca serão nossas: talvez porque as não mereçamos ou não consigamos com elas coabitar. O desafio é resistir a querer saber tudo. O rosto de uma mulher encerra uma sabedoria que nos devia tornar humildes. A espécie primordial são elas. Nenhum criador põe tudo o que sabe naquilo que faz. A não ser que seja homem. Acredito bem que Jonathan Glazer não podia pôr mais do que o que está em Birth, uma obra que para mim é o equivalente cinematográfico de uma sinfonia de Mahler (Alexandre Desplat fez a música, bravo). E um filme de co-autoria, porque ao próprio realizador escaparão algumas das emoções projectadas pelo rosto de Nicole Kidman, filmada de perto por Glazer como havia sido por Kubrick, e igualmente misteriosa.

[sugerido pelos comentários do João Lopes e por outros factores que aqui permanecerão secretos]

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