9.29.2009
O grande mistério
Terminei de ver a primeira época de Mad Men. Não tenho acompanhado a exibição da série na televisão portuguesa e suspeito que vou adiantado. Sem incorrer na prática desagradável do "desmancha-prazeres", limito-me a relatar os derradeiros instantes do último episódio. Don Draper chega a casa e encontra a mulher e os filhos com as malas feitas para irem passar o Dia de Acção de Graças com a família dela. Don surpreende-os dizendo que afinal vai com eles, o que os deixa muito felizes. TAKE 2: a cena repete-se. Don chega a casa mas desta vez encontra-a vazia. A família já havia partido em viagem, e a ele resta-lhe passar a quadra festiva sozinho. Em fundo escuta-se a canção de Bob Dylan Don’t Think Twice, It’s All Right, que acompanhará o genérico final. Para Donald Draper não houve segunda hipótese. E é isto que observamos constantemente em Mad Men: as pequenas punições que empurram as personagens para um lugar de solidão. Ao levantar-se o acetato colorido, platinado, lacado do “sonho americano”, ficam à vista os graus de cinzento da condição humana cujos actos obedecem a uma lógica nunca inteiramente acessível. Porque é que as pessoas agem como agem? Creio que a série nunca providenciará essa resposta. O trunfo de Mad Men é saber extrair o carácter individual das vidas banais. Porque todas são banais. E fazemos disso um grande mistério.
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