9.21.2009

À L'Aventure




















Imagine-se um objecto que faz espalhar a beleza da luz natural sobre uma série de encontros, conversas, instantes de livre especulação sobre a vida como nos filmes de Rohmer, cenas exteriores e interiores, coreografias naturalistas ou ritualizadas, tomadas com a elegância e o sentido de duração de Rivette, que vimos a descobrir ser por inteiro um filme de Jean-Claude Brisseau, porque nenhum outro cineasta em actividade cultiva com este carinho obsessivo o mais insondável dos fetiches: o orgasmo feminino. Para chegar a ele, Brisseau socorrer-se de saberes como a Física e a Psicanálise, problematiza êxtase sexual versus êxtase místico, filma sequências de hipnose que estão na origem dos sugestivos enlaces de corpos femininos, colocando-se e colocando-nos no lugar do adorador que experimenta a intensidade de uma excitação domada. Há um lado de transgressão beata nos últimos filmes de Brisseau (na proclamada trilogia iniciada com Coisas Secretas, continuada com Os Anjos Exterminadores, que agora se encerra), e o que parece evidente é que no meio de tanta libertinagem retórica ou figurativa, o homem é incapaz de ser vulgar. À L'Aventure dá a ver um Brisseau como que decantado, com musas de carne e osso pouco óbvias e trajadas com a mais distinta das cores (a cor preta; quantos serão os filmes de Brisseau que podemos considerar obras ao Negro: de erótico, de surreal, da mais individual das Artes que é a do imaginário, a da imaginação?), mulheres que se tocam de forma ligeiramente estilizada, o que remete essa como as demais acções para o domínio do sonho desperto. Os filmes de Jean Claude Brisseau fazem levitar o espírito actuante das partes do corpo. Bendito feitiço. Abençoada levitação.

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