9.07.2009

Cat power

















Alguém que tenha atravessado os anos 80 não sentirá dificuldade em situar Cat People (82)na década. No meu caso sinto acrescida uma certa nostalgia. Num dos extras que integram a edição DVD que tenho, Paul Schrader refere-se-lhe como tendo sido a sua derradeira experiência de trabalho com um grande estúdio (a Universal). E põe ênfase nas contribuições do núcleo duro que transitara do anterior American Gigolo (80): Giorgio Moroder (música), John Bailey (direcção de fotografia), e em particular Ferdinando Scarfiotti (direcção artística). A nostalgia que o filme me sugere está intimamente ligada à sua riqueza simbólica, e a um efeito de sedução que só o cinema permite trabalhar de forma tão completa. Cat People é um filme belíssimo, e muito sugestivo. O modo como mistifica o sexo, aliado ao uso expressivo da cor, e à revelação dessa criatura virginal que era para nós Nastassja Kinski, conservam o fascínio original: de uma origem que nos parece hoje tão remota (porque esteticamente vincada), onde a universalidade da recepção das produções americanas convivia com a ousadia dos seus grandes artistas. Um filme como Cat People seria impossível de surgir no contexto presente. Daí que seja tão excitante recordá-lo, actualizando-o na memória.

P.S. Vi também recentemente a penúltima realização de Paul Schrader: The Walker, com Woody Harrelson, Lauren Bacall e Kristin Scott Thomas. A acção passa-se nos dias de hoje, nos meandros políticos de Washington, e dos seus jogos de influência. Recomendo The Walker porque se trata de um filme de autor, e porque os temas que perseguem Paul Schrader, e que Schrader persegue (sobretudo quando filma material que ele próprio escreveu) sempre me interessaram. The Walker assume o estatuto de última variação no anti-herói solitário que existia em Taxi Driver, American Gigolo e Light Sleeper, cada vez mais remetido para a atitude passiva de quem se limita a observar os vícios dos outros, cultivando uma superficialidade que funciona como mecanismo de auto-preservação. Mas tratando-se de um anti-herói de Paul Schrader, e por consequência de alguém que acaba fazendo escolhas morais (que contradizem a aparente superficialidade), o mesmo homem vem a comprometer-se com aquilo para que antes apenas olhava.

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