9.29.2009

39 rotações


























Desde que pela primeira vez na vida tive vontade de ser músico rock: de gravar ali.

O grande mistério
















Terminei de ver a primeira época de Mad Men. Não tenho acompanhado a exibição da série na televisão portuguesa e suspeito que vou adiantado. Sem incorrer na prática desagradável do "desmancha-prazeres", limito-me a relatar os derradeiros instantes do último episódio. Don Draper chega a casa e encontra a mulher e os filhos com as malas feitas para irem passar o Dia de Acção de Graças com a família dela. Don surpreende-os dizendo que afinal vai com eles, o que os deixa muito felizes. TAKE 2: a cena repete-se. Don chega a casa mas desta vez encontra-a vazia. A família já havia partido em viagem, e a ele resta-lhe passar a quadra festiva sozinho. Em fundo escuta-se a canção de Bob Dylan Don’t Think Twice, It’s All Right, que acompanhará o genérico final. Para Donald Draper não houve segunda hipótese. E é isto que observamos constantemente em Mad Men: as pequenas punições que empurram as personagens para um lugar de solidão. Ao levantar-se o acetato colorido, platinado, lacado do “sonho americano”, ficam à vista os graus de cinzento da condição humana cujos actos obedecem a uma lógica nunca inteiramente acessível. Porque é que as pessoas agem como agem? Creio que a série nunca providenciará essa resposta. O trunfo de Mad Men é saber extrair o carácter individual das vidas banais. Porque todas são banais. E fazemos disso um grande mistério.

9.28.2009

Contagem decrescente até sábado


























Entretanto o COLLEC.tiff lê-se aqui.

9.26.2009

As mãos


A medida do homem



















You're born alone and you die alone and this world just drops a bunch of rules on top of you to make you forget those facts. But I never forget. I'm living like there's no tomorrow, because there isn't one.
[Don Draper em Mad Men, uma série sobre o sentido da vida.]

9.25.2009

A Voz


























É sempre um risco afirmar aquilo que estou prestes a dizer, mas desde que os Screaming Trees terminaram e Mark Lanegan prosseguiu sozinho o seu caminho, com espaço para projectos paralelos com os Queens of the Stone Age, Isobel Campbell, nos Twilight Singers ou nos Gutter Twins, que se tornou no meu mais recente cantor favorito. E naquele que maior sentido dá e faz neste momento. A voz de Mark Lanegan é como um vulcão existencialista. São camadas e camadas de vida que percebemos no magma que tão perfeitamente se molda aos blues e ao rock atormentados. O pesadelo acordado que nos faz lúcidos. No que me diz respeito a voz de Mark Lanegan é a verdade. Testamento intenso que não me canso de ler, e que hoje abri no capítulo Field Songs. Olhem para o retrato e não desistam de ampliá-lo.

9.24.2009

Para uns quantos bad asses out there




















Agarrem-se a isto pela vossa saúde.

9.23.2009

O mangusto voa











Há um tema em California Crossing dos Fu Manchu que se chama Mongoose. O stoner rock, o desert rock, ou simplesmente o rock manda tal intensidade que podemos nem chegar à descodificação do seu universo de palavras: usos, abusos, manobras radicais. Mongoose quer dizer mangusto, o animal, mas não me convenci de que a banda havia dedicado uma malha daquelas ao raio do bicho. Existe, vim a saber depois, uma marca de bicicletas com esse nome, e então tudo ganhou sentido, e o "mangusto" propriamente voa: assim como (não propriamente) o espírito de quem vibra com esta música. E voa embora com uma intensidade de movimentos em tudo oposta à apropriação impressionista que, por exemplo, Gus Van Sant dá do mesmo contexto. Isto é mais sério do que a própria arte.

Jaki Duracell


















A foto não é de ontem, mas foi o mais aproximado que se arranjou. Fixo-me na prestação de Jaki Liebezeit, 71 anos, que volta a ser cool acompanhando com precisão robótica os sons programados por Burnt Friedman. Ainda mais cool porque podia ser avô de muitos de nós (quem nos dera), ou um chofer de praça daqueles simpáticos que não se põem a dizer mal de tudo. Vestia camisa fora de moda, e sempre que o público aplaudia mostrava ar de espanto (parecia falar para nós e para o lado, embora pudesse ser também um movimento de lábios involuntário e sem texto). Apenas espanto.

9.22.2009

Vamos por partes


























Retrospectiva Manuel Mozos, em Setembro e Outubro, na Malaposta. Começa amanhã.

[clicar na imagem para ver melhor]

9.21.2009

Uma pessoa precisa de se sentir um super-homem de vez em quando


À L'Aventure




















Imagine-se um objecto que faz espalhar a beleza da luz natural sobre uma série de encontros, conversas, instantes de livre especulação sobre a vida como nos filmes de Rohmer, cenas exteriores e interiores, coreografias naturalistas ou ritualizadas, tomadas com a elegância e o sentido de duração de Rivette, que vimos a descobrir ser por inteiro um filme de Jean-Claude Brisseau, porque nenhum outro cineasta em actividade cultiva com este carinho obsessivo o mais insondável dos fetiches: o orgasmo feminino. Para chegar a ele, Brisseau socorrer-se de saberes como a Física e a Psicanálise, problematiza êxtase sexual versus êxtase místico, filma sequências de hipnose que estão na origem dos sugestivos enlaces de corpos femininos, colocando-se e colocando-nos no lugar do adorador que experimenta a intensidade de uma excitação domada. Há um lado de transgressão beata nos últimos filmes de Brisseau (na proclamada trilogia iniciada com Coisas Secretas, continuada com Os Anjos Exterminadores, que agora se encerra), e o que parece evidente é que no meio de tanta libertinagem retórica ou figurativa, o homem é incapaz de ser vulgar. À L'Aventure dá a ver um Brisseau como que decantado, com musas de carne e osso pouco óbvias e trajadas com a mais distinta das cores (a cor preta; quantos serão os filmes de Brisseau que podemos considerar obras ao Negro: de erótico, de surreal, da mais individual das Artes que é a do imaginário, a da imaginação?), mulheres que se tocam de forma ligeiramente estilizada, o que remete essa como as demais acções para o domínio do sonho desperto. Os filmes de Jean Claude Brisseau fazem levitar o espírito actuante das partes do corpo. Bendito feitiço. Abençoada levitação.

The Hurt Locker
















Posso reconhecer sem favor neste trabalho da Bigelow competência artística e justeza de tom, mas nenhum filme se completa em mim, no todo ou em parte, se eu não me projectar nele total ou parcialmente; se não suscitar uma identificação que passa exclusivamente por sentimentos ou emoções. O sortilégio do cinema acontece (acho) quando nos toca com coisas nunca vistas, ou quando desperta em nós a memória das emoções que nos formaram: reconhecendo que é mais comum encontrar de novo, que encontrar o novo. Em The Hurt Locker (Estado de Guerra), nem uma coisa nem outra.

9.18.2009

O último dos grandes românticos


















Falling in Love

Falling in love is easy,
that's what my friends tell me.
It's letting a bird
out of a cage,
when will my heart, my heart
be free?

Falling in love is simple,
nothing you need to know.
It's falling off logs
follow the flow
why is my heart, my heart,
so slow?


[...]

[faixa #8 de Let's Change the World With Music]

Quando se cria um álbum que pode ser descrito como sendo a "Capela Sistina" da canção pop-gospel-electrónica, torna-se difícil encontrar depois quem queiramos colocar no seu interior junto de nós. Donde ao nos cruzarmos com gente solitária por aí, pode bem ser que entre eles estejam outros nossos últimos românticos.

Construam-lhe também uma estátua



















Pelas razões óbvias.

Construam-lhe uma estátua
















Ainda o disco ia a meio da sua primeira passagem (na canção, e que canção!, Earth: The Story So Far), e eu já espalhava mensagens de telemóvel e comentários falando em obra-prima. Depois foi só acompanhar o alinhamento até final para comprovar que não me havia precipitado.

9.17.2009

Vocês vão querer ver este filme




















Mas só em 2010.

9.16.2009

For those about to rock


























Clicar na imagem para ampliá-la.

No sábado 3 de Outubro tocarei discos neste sítio, integrado na iniciativa que o Pedro Bento baptizou de COLLEC.tiff. Se jantarem cedo podem ouvir tudo: pego às 22h e largo às 24h. O resto da noite será por conta da Menina Limão & O Senhor. We salute you.

Extravagância













[...] All those for whom individualism is still a luxury recognise themselves in redeeming heroes, and they are never too particular about the ultimate nature of what is redeemed. For these earnest heroes who make them laugh redeem them from one thing at least: boredom.

Serge Daney, The Last Temptation of the First Rambo. Tirado daqui.

Um crime real
















[...] Gray tomou a estrutura de Noites Brancas, de Dostoievski, para realizar uma sensível meditação sobre o combate que existe em nosso interior quando nos deparamos com a mentira romântica. Para quem já suspeita, o termo é obviamente tirado de René Girard, que, com seu primeiro livro, Mentira Romântica e Verdade Romanesca [...], mostra como o homem gosta de se envolver em relações miméticas, i.e, de imitação e de apropriação de comportamento, porque, antes de tudo, ele prefere sempre colocar alguém - uma mulher, uma idéia, um modo de vida - como um ídolo absoluto, ao invés de se confrontar com a realidade.
[...] James Gray toma o caminho de criticar a mentira romântica - algo completamente oposto a qualquer filme romântico feito nos nossos dias - e tem a proeza de filmá-la [...] como um crime. Porque a mentira romântica é exatamente isso: um crime contra o real, contra nós mesmos e, no fundo, contra as pessoas que realmente nos amam.

Martim Vasques da Cunha, Nós que nos amávamos tanto... , no Dicta&Contradicta.

9.15.2009

Em cada mulher uma dança
















Na minha geração muitos quiseram um dia ser como Patrick Swayze.

Vaidade ou revelação




















Há discos que só conseguimos apreciar de verdade quando substituímos a habitual inquietação em que estamos viciados pela sábia rendição. Discos que funcionam como lições de vida para quem tiver humildade e desejo de aprender. O que se mostra simples foi sempre o mais importante. E o resto é história.

Never alone


























Ilustração de Vince McIndoe na Mojo.

9.14.2009

Tão longe, tão perto





















Saíram notícias da colaboração em estúdio que vêm estabelecendo Brian Eno e o par de elementos dos Underworld. As mesmas não davam conta da curadoria desempenhada por Eno num festival australiano onde o próprio actuou junto de Karl Hyde, dos Underworld, e dos The Necks (Eno uses comedy to relate to the audience and he’s extremely charming and wry. He joked that there were lots of bald people (like him) in the audience and that he appreciated the support of the bald appreciation society.) Os Underworld interessam-me na medida em que foram eles que fizeram com Gabriel Yared a música estupenda do filme Breaking and Entering. Pensar o que Brian Eno pode potenciar na sensibilidade do duo britânico começa a eriçar-me a penugem que reveste a espinha.

Ninho de brutos





















A importância das Desert Sessions fundadas por Josh Homme (lê-se "hommy", como em "mommy") transcende a série de bons discos ali realizados. Editadas em CD aos pares, entre 1998 e 2003, são hoje impossíveis ou raras de encontrar. Foi por lá que passaram em residência os Arctic Monkeys, e os resultados escutam-se no Humbug acabado de sair. Foi lá, em Joshua Tree, que a cumplicidade dos ferozes foi forjada. Daí que sejamos apanhados menos de surpresa quando descobrimos na derradeira faixa de A Drug Problem That Never Existed (trabalho de puro calibre, à semelhança da discografia dos Queens of the Stone Age) uma coda promocional que em 2003 dava por iminente o primeiro disco dos Eagles of Death Metal, e os ainda derradeiros volumes das Desert Sessions (vols. 9 & 10). O facto destes músicos colaborarem assiduamente entre si contribui para a qualidade dos discos de todos. Quem se deixa contaminar pelo carisma do deserto tem longa travessia pela frente. O espírito das Desert Sessions "lives MIGHTY on".

Répteis













Animais de sangue frio.

[Recordando John McNaughton, que soube filmar a espécie.]

Aproximação ao rosto de Romola Garai


9.11.2009

Brincar aos países





















Um reino de segurança foi aniquilado (para sempre?) em 11 de Setembro de 2001, mas amanhã assinala-se o estabelecimento em Lisboa do consulado de um outro reino (Elgaland-Vargaland). A embaixada já existe (Heitor Alvelos é o embaixador em Portugal) para este reino fundado em 1992 no espaço entre todas as fronteiras do mundo e, desde então, aumentado com anexações sucessivas de territórios virtuais e outros não reclamados. Pormenores aqui: a não existência de território físico eleva o reino à categoria de utopia preenchida com as doses certas de anarquia, civismo e idealismo, funcionando como laboratório de uma sociedade que efectivamente não existe mas cujo propósito pode bem ser prevenir um estado de coisas conducente a tragédias como a do 11 de Setembro. É um espaço de liberdade e tolerância onde não existem regras fixas a não ser as que cada indivíduo se impõe a si e ao seu comportamento perante os outros. Brincar aos países, talvez, mas, activamente, expressar uma recusa saudável pelos parâmetros que regem quase todos os aspectos vitais nas sociedades contemporâneas. Amanhã às 18h30, no Teatro Maria Matos, abertura do consulado lisboeta com presença da realeza, embaixadores e ministros de Elgaland-Vargaland.

Flur, Mailing LUST #489, 11 Setembro 2009‏.

Woah Johnny

(...) o "Journal of Experimental Social Psychology" chegou à conclusão irrefutável de que os homens perdem a cabeça na presença da beleza feminina. "Perder a cabeça", aqui, deve ser lido em sentido literal: depois de medirem a atividade cerebral dos voluntários, cientistas holandeses da Universidade de Radboud determinaram uma diminuição real nas capacidades cognitivas dos machos. Em termos pictóricos, não será exagero afirmar que o cérebro masculino encolhe e derrete perante a luz de uma ninfa. (...) o homem usa e abusa de todos os seus "recursos cognitivos" para impressionar a presa. Por sua vez, esse excesso de energia canalizado para uma só função provoca um deficit cerebral para as restantes e posteriores funções. É como se os homens esvaziassem uma parte da cabeça para que a outra parte possa funcionar a todo o vapor. Os prejuízos mentais são inevitáveis.

[João Pereira Coutinho, Os Homens, Esses Neandertais, Folha Ilustrada]


Well my heart's runnin' round like a chicken with its head cut off
All around the barn yard falling in and out of love
Poor thing's blind as a bat
Gettin' up, fallin' down, gettin' up
Who'd fall in love with a chicken with its head cut off?

[The Magnetic Fields, A Chicken With Its Head Cut Off , 69 Love Songs]

9.09.2009

E só pela capa


























Na semana em que a totalidade da obra dos Beatles chega às lojas em elogiadas edições remasterizadas em estéreo, tive a modéstia de me contentar com um She Loves You bem alternativo. Um punk escolhe o que pode, algumas vezes pela capa.

Sombras
























© Sam Cornet

As que faziam falta.

Entre o céu e o inferno




















Entre um disco que está a soar incrivelmente bem, e um filme que achei inacreditavelmente mau.

9.08.2009

O melhor dos meses


























Sai dia 21 de Setembro.

Do not disturb


























© lnx.dk

Daqui até ao fim da semana não escutarei nada que não seja cantado por Mark Lanegan.

Mestre Eckhart


9.07.2009

Yours

truly, truly, truly.

Cat power

















Alguém que tenha atravessado os anos 80 não sentirá dificuldade em situar Cat People (82)na década. No meu caso sinto acrescida uma certa nostalgia. Num dos extras que integram a edição DVD que tenho, Paul Schrader refere-se-lhe como tendo sido a sua derradeira experiência de trabalho com um grande estúdio (a Universal). E põe ênfase nas contribuições do núcleo duro que transitara do anterior American Gigolo (80): Giorgio Moroder (música), John Bailey (direcção de fotografia), e em particular Ferdinando Scarfiotti (direcção artística). A nostalgia que o filme me sugere está intimamente ligada à sua riqueza simbólica, e a um efeito de sedução que só o cinema permite trabalhar de forma tão completa. Cat People é um filme belíssimo, e muito sugestivo. O modo como mistifica o sexo, aliado ao uso expressivo da cor, e à revelação dessa criatura virginal que era para nós Nastassja Kinski, conservam o fascínio original: de uma origem que nos parece hoje tão remota (porque esteticamente vincada), onde a universalidade da recepção das produções americanas convivia com a ousadia dos seus grandes artistas. Um filme como Cat People seria impossível de surgir no contexto presente. Daí que seja tão excitante recordá-lo, actualizando-o na memória.

P.S. Vi também recentemente a penúltima realização de Paul Schrader: The Walker, com Woody Harrelson, Lauren Bacall e Kristin Scott Thomas. A acção passa-se nos dias de hoje, nos meandros políticos de Washington, e dos seus jogos de influência. Recomendo The Walker porque se trata de um filme de autor, e porque os temas que perseguem Paul Schrader, e que Schrader persegue (sobretudo quando filma material que ele próprio escreveu) sempre me interessaram. The Walker assume o estatuto de última variação no anti-herói solitário que existia em Taxi Driver, American Gigolo e Light Sleeper, cada vez mais remetido para a atitude passiva de quem se limita a observar os vícios dos outros, cultivando uma superficialidade que funciona como mecanismo de auto-preservação. Mas tratando-se de um anti-herói de Paul Schrader, e por consequência de alguém que acaba fazendo escolhas morais (que contradizem a aparente superficialidade), o mesmo homem vem a comprometer-se com aquilo para que antes apenas olhava.

Do partir a moca a rir













Vieira reencontra Corneto, velho companheiro de escola tornado ex-comando.

Quantos deram conta da exibição do compacto Um Mundo Catita pela RTP2? Quantos terão aguentado a vontade de urinar até ao fim? Eu sim. Ali firme permaneci, acompanhando as deambulações de Manuel João Vieira, um homem fiel à sua puta. Quase sempre hilariante, e subversivo sempre.

9.04.2009

The pavillion of dreams




















Também conhecida por prática de recuperação (dentro de momentos).

Ontem estava com uma grande grossura


























Sin and gravity drag me down to sleep
to dream of trains across the sea, trains across

the sea. Half hours on earth, what are
they worth, I don't know. In 27 years
I've drunk fifty thousand beers & they just
wash against me like the sea into a pier.....

9.03.2009

Três em um


























"Pela forma de jogar do Sporting, que é num 4x4x2 em losango, ele pode ser utilizado como jogador mais avançado, ao lado de Liedson, mas também à esquerda ou à direita do meio-campo", assume, destacando assim a polivalência de Angulo: "No Valência, quando foi preciso, ele até jogou como defesa-direito!"

Chegou um portento físico. Vamos acreditar que continua a ser verdade.

9.02.2009

Brian Peter George St. Jean le Baptiste de la Salle Eno














Provavelmente, a maior campanha promocional de sempre.

Il y a longtemps que je (L)'aime















Momentos antes da aula de yôga ter início, alguém dizia ter visto nas férias a actriz Kristin Scott Thomas, acompanhada dos filhos, na praia da Comporta. A máquina dos sonhos pôs-se em movimento. Perdi a conta ao número de takes. Fixou-se na memória qualquer coisa assim: eu saindo do mar na direcção dela, as crianças por perto, e quando o nosso olhar se cruzou, “Excuse me. I’ve loved you so long. May I kiss you?", e dois beijos na face depois, “I think you’re a very beautiful woman, and a wonderful actress. Enjoy your holidays!" Ainda pensei que me convidasse para jantar (ingénuo). Entrei em casa, comi em silêncio, servi-me do primeiro uísque quando começava o filme de Philippe Claudel. Ela estava ali desde a primeira imagem. Dedos amarelados, fumando, nervoso miudinho. Nunca antes a vira tão comum e tão vulnerável. O filme, de um pudor emocional comovente, não disfarçava a sua mediania formal: a fazer lembrar o melhor André Téchiné, em menos bom. As implicações da história, suportadas por uma dramaturgia em surdina, tratando da aproximação de duas irmãs separadas durante 15 anos, por uma delas (Juliette/ Kristin Scott Thomas) haver sido condenada depois de ter posto fim à vida do filho que sofria de doença degenerativa. Philippe Claudel mostrou-se sobretudo um argumentista de grande sensibilidade, e um director de actores atento ao potencial revelador da mais fugaz expressão: das muitas que lhe ofereceu o rosto de Scott Thomas. Quando a encontramos, iniciamos um processo de aprendizagem que evolui à medida que as restantes personagens fazem o seu trabalho de reconhecimento. Juliette é alguém de quem os outros falam a partir do que sobre ela ouviram dizer, e que paradoxalmente procura abrigo no silêncio enquanto refaz a vida. Que espaço têm jantares com Kristin Scott Thomas, na Comporta, sem as crianças, nisto tudo? Vivo de vaga em vaga divagando.

9.01.2009

Dois bons discos














A introdução de Bert Jansch à geração indie, junto com a escapadela inaugural de Isobel Campbell e Mark Lanegan. No primeiro caso tomo contacto com uma espécie de João Gilberto escocês: Jansch é um histórico da folk britânica (ex-Pentangle) que se distinguiu, para os que alimentaram o culto, pela técnica individual de tocar guitarra acústica e pelo estilo desafectado do seu canto. Aqui, em 2006, foi apresentado à legião urbana de seguidores de Beth Orthon e Devendra Banhart, que por sua vez acompanham este regresso. Já a paixão clandestina de Isobel e Mark faz-se de canções que espalham intemporalidade (que vão além do nosso tempo e do deles), e o par reproduz um modelo de charme que em anos recentes vimos aplicado nos duetos de Nick Cave (com Anita Lane ou Kylie Minogue) ou de Stuart Staples (nas estupendas "leaving songs"), que terá por momento inspirador a discografia de Nancy Sinatra com Lee Hazlewood, que confesso conhecer mal. Mark Lanegan está impecável, tal como em outros contextos onde eu o descobrira. A sua voz tem aspereza de vida, e isso em rigor é o que lhe pedem as canções da senhora Campbell.

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