5.09.2007
Alguns parágrafos são (ainda) melhores que os outros
«Por vezes é constrangedor como o corpo não está disposto a mentir sobre as emoções, ou não consegue fazê-lo. Quem, em nome do decoro, conseguiu alguma vez abrandar o coração ou dissimular um rubor? O músculo rebelde de Florence saltava e adejava, como uma borboleta presa sob a sua pele. Por vezes tinha um problema semelhante com as pálpebras. Não estava certa, mas talvez o tumulto estivesse a abrandar. Ajudava-a fixar-se nos aspectos fundamentais, e enumerou-os, de si para consigo, com uma lucidez estúpida: a mão dele encontrava-se ali por ele ser seu marido; ela deixava-o estar por ser sua mulher. Algumas das suas amigas – Greta, Hermione e, especialmente, Lucy – há horas que teriam estado nuas entre os lençóis e consumado o casamento – ruidosa e alegremente – muito antes da boda. Com o seu afecto e generosidade, tinham mesmo a impressão de que era isso precisamente que ela tinha feito. Florence nunca lhes mentira, mas também nunca as elucidara. Ao pensar nas amigas, sentiu aquele travo peculiar e não partilhado da sua existência: estava sozinha.»
[pág. 70 da edição da Gradiva]
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