9.07.2012
“Bianca”, um retrato da solidão
Caso bicudo este Bianca (1984). A começar pelo tom do filme. A música e a planificação configuram um policial, ou um filme de suspense psicológico, ou uma mistura de ambos, a fazer lembrar os Chabrol e os Truffaut da década de 70. Chegados ao liceu Marilyn Monroe (!) com o protagonista, o professor de matemática Michelle Apicella (Nanni Moretti), o registo torna-se burlesco, embora a carga malsã de Apicella paire como sombra que desce naquele contexto algo excêntrico e de cores garridas. A própria figura de Nanni é estranha. Recorda de modo igualmente enviesado o Helmut Berger do cinema de Visconti, com a maquilhagem evidente e o cabelo demasiado armado.
O professor Apicella parece movimentar-se à parte das restantes personagens. Como um vampiro diurno. À força de se querer proteger do mundo que não compreende, da felicidade que só entende enquanto valor absoluto, torna-se numa espécie de fugitivo. Figura suspeita. Mas o espectador passa-se para o lado dele porque Michelle é frágil; porque muitas das suas inquietações, medos, desconfortos, dizem coisas sobre nós também. Os crimes sucedem-se, apesar de o filme os tratar de forma sempre lateral ao veio principal da história, e então surge Bianca (Laura Morante) que faz por Michelle uma escolha, dir-se-ia, irracional, e este encontro só amplia a paranóia do protagonista, quebrado sob o peso das relações que espia e condena. Traições, poligamia, conformismo.
Quando Michelle se despede de nós comenta a tristeza que é morrer sem ter tido filhos. Os poucos sorrisos que o filme suscita, e o acumulado de risos nervosos, substituem-se nos instantes finais por uma impressão de asfixia. Bianca é até mesmo superficialmente um objecto amargo e triste.
Próxima paragem: La Messa è Finita/ A Missa Acabou (1985)
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