8.12.2008

Lírios quebrados





















Na derradeira página do seu diário de 1995, A Year With Swollen Apppendices, Brian Eno enuncia nas várias resoluções para o ano seguinte, o desejo de diminuir o consumo de vinho: uma das características que o define enquanto pessoa, ser um "wine-lover", a par de "mamífero", "inventor", "masturbador", "celebridade", etc etc (ver contracapa do mesmo livro). Poucas páginas à frente, no extremamente esclarecedor ensaio Ambient Music, o mesmo Eno escreve, "And immersion was really the point: we were making music to swim in, to float in, to get lost inside". Ora isto parece-me ser exactamente o estado que perseguem os grandes bebedores: nada a ver com os bêbedos, que não apreciam a alternância de sensações entre o sóbrio e o ébrio, e que sofregamente perseguem a dessensibilização última. A contradição de Brian Eno, nos termos, é esta: aquilo que o prazer do consumo demorado do vinho lhe proporcionava, e que ele pretendia diminuir, era semelhante à justificação orgânica para a experimentação com sons ambientais. A evasão para uma zona alternativa de consciência, mais segura, menos tensa, e líquida, nas cercanias do útero onde fomos gerados. E de onde uma vez saídos, passámos a estar quebrados.

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