8.26.2008
Arqueologia
A época mantém-se, as vontades desdobram-se. Da "vida e do tempo" de Brian Eno, de capítulos que dão contam dos trabalhos com o More Songs..., o Fear of Music, o Remain in Light, dos Talking Heads, junto com o .... Bush of Ghosts, até às áfricas, é passo mais curto do que se pode pensar. As páginas do livro caminham em paralelo com as várias audições. E há descobertas a relatar. Como a caixa de três CD's Arkology grávida das inúmeras produções de Lee Scratch Perry, na qual a única palha encontrada é aquela provavelmente fumada pelos músicos. Extraordinária música onde sobre o beat primitivo se entende veludo vocal - muito bom mesmo quando um mínimo áspero. E também Zombie, de Fela Kuti, cujo som empurra para o êxtase do corpo e o disparo da mente. A voz de Fela e o modo como a sua respiração toma corpo nos diferentes instrumentos de sopro, são prova cabal de virilidade e inconfromismo que terão marcado a vida do músico nigeriano. Mas sobre isto há leituras a fazer antes de aprofundar as ilações. Fela é continente onde se impõe que a permanência vá além do tempo de férias. Há aqui um filme a fazer, que podia bem ser Spike Lee a realizar.
E ainda: Noah Baumbach realiza com Margot at the Wedding a mais esquiva e inspirada homenagem aos clássicos da Nova Vaga (Truffaut, Pialat, Rohmer) que me foi dada a ver, em anos recentes, pelos olhos de norte-americanos; Albert Finney é actor para a eternidade ainda que a sua filmografia se restringisse aos títulos Under the Volcano e The Browning Version; o Bull and Bear do Porto pode ter as estrelas todas que lhe queiram dar, e que em parte residual merece, mas vinte vezes o arrozinho de Polvo da Trempe que foi o meu almoço; por último a confirmação de que o lapso pode esconder o aplauso: The Stage Names, pelos Okkervil River (diabos me levem se alguma vez hei-de acertar com o nome...) é disco inspirado. Fãs dos Arcade Fire, espreitem esta outra rapaziada. Se for por "search" pontual, apontem para a faixa A Girl in Port. Eu sei, eu sei, previsível eu sei.
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