As Harmonias de Werckmeister (2000) dá corpo a uma alegoria política cuja totalidade das implicações ter-me-á escapado. O filme apresenta-nos um cenário remoto, uma pequena cidade, que assiste à chegada de um espectáculo de feira que consiste na apresentação de uma baleia embalsamada, que vemos em três ocasiões, e de alguém identificado como "o príncipe", que não chegamos a ver.
O filme sugere que terá havido um incitamento à rebelião por parte do tal "príncipe", a que se seguirão actos de vandalismo de que ouvimos falar (uns) e a que assistimos também (outros), aproveitados por elementos locais junto com a polícia para instalar um regime repressivo no território. É esta violência que se tornará insustentável para János, figura manipulada no decorrer do processo. Como se os aspectos mais negros da natureza humana tivessem conduzido à demência um indivíduo pacífico e cândido como ele. Anti-herói embalsamado em vida (para ninguém mais ver).
A lente de Tarr move-se constantemente mas tem a gravidade dos planos fixos. Algo existe que a prende ao solo e que traduz o peso de existir.