12.17.2012

Do(i)s amores impossíveis





















A RTP2 mostrou na passada noite de sábado (no relógio era já domingo) um filme português de produção recente, um filme muito especial que não teve exibição nas salas por uma questão de pagamento de direitos (de utilização de músicas) que não foi feito pela produtora. Tinha visto Guerra Civil (2010), de Pedro Caldas, numa edição do IndieLisboa, e confirmei as melhores impressões dessa ocasião. A acção decorre no Verão de 1982, na costa alentejana, Odeceixe e arredores, e descreve os amores impossíveis do jovem Rui, a estudar para exames mas que só vemos a escutar música e a desenhar ou em passeios solitários na única companhia de seu hamster branco, e da sua mãe, que enquanto espera a chegada do marido se envolve inconsequentemente com o filho dos vizinhos de toldo.
A um segundo visionamento revelam-se na sua maior pertinência as razões de Pedro Caldas repetir o primeiro terço do filme, primeiro colocando o enfoque em Rui e depois na mãe. São duas solidões que partilham um espaço mas que não comunicam entre si. Existe mesmo um clima de "guerra civil" naquela casa de férias, acentuado com a vinda do pai/marido. Guerra fria de muda quando não feita de palavras e gestos ríspidos. Os amores, com diferentes maturidades, são também vividos com intensidades diferentes. No caso da mãe paira alguma mágoa do passar dos anos, que Pedro Caldas coloca em confronto com a beleza alheia dos lugares do filme, únicas testemunhas dos momentos mais privados das personagens.
No caso de Rui, jovem hiper-romântico impreparado para a ligeireza dos romances próprios da idade, a história conhecerá contornos trágicos (anunciados desde logo pelo cartaz de Ian Curtis pendurado no seu quarto). Diga-se nunca suficientes vezes o quão particular é este filme de Pedro Caldas, magnificamente fotografado por Leonardo Simões. Até que alguém o resgate para que o possamos continuar a ver hoje e sempre.

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