Os mais recentes discos de estúdio de Paolo Conte continuam a ser Reveries (2003) e Elegia (2004). Já aqui dei conta, e não será esta a última vez, da minha paixão pelo repertório de Conte cujo imaginário muito pessoal - entre o sonho desperto e a doce melancolia - se foi tornando mais e mais familiar quase sem que eu desse por isso. Um fenómeno, diria, da ordem do entendimento irracional, que só as artes permitem por nos fazerem sentir coisas que escapam por vezes à sua compreensão. Um dos obstáculos passava pelo meu domínio deficitário da língua italiana, mais do que evidente quando me propus traduzir uma das canções. Nestes dois CD's, onde é evidente o propósito de corresponder à notoriedade internacional do músico, as palavras surgem-nos traduzidas pelo menos em inglês. Passei o início da tarde de volta de Reveries e de Elegia. Escutei duas vezes cada um dos CD's. Atento às palavras, à ironia e à auto-irrisão das letras, soltas como numa nuvem de fumo, o seu significado esfumando-se quando depois de as lermos tentamos apreendê-lo. Como no magnífico texto de um dos muitos clássicos de Paolo Conte, que por mero acaso tem o mesmo nome deste blogue: Reveries.
Nous, de temps en temps
nous sommes des enfants
sans problèmes ni loi
de nos droit on est sûr
les mains sales d’confiture
contre le sofa…
Depuis ce matin
nos pattes sont en satin,
fauves les yeux pleins d’sauvage
dans la nuit d’la savane
se moquant de la rage
d’quelq’un en panne…
Oh, spleen, oh, rêverie
Oh, spleen, oh, symphony
Oh, spleen, oh, memory!
Oui, pardon, pardon…
Ah, oui, glissons, glissons…
Habillé en bel-homme, j’ai perdu ma jeunesse
Mon visage de canaille,
en laine-grisaille…
Oui, de temps en temps…
Outros dois discos magníficos de um artista total.