7.05.2006
O que ele viu em Sarajevo
A imagem pertence ao documentário Diários da Bósnia, de Joaquim Sapinho, que antestreou ontem pela segunda vez em Lisboa: depois do Doc, na Cinemateca. Sapinho filmou em 1996 e 1998 numa situação de pós-conflito dos balcãs e mais tarde ainda: no pós-pós-conflito. A atitude parece ser a de "fazer pela vida" num cenário desértico mas cheio de sinais da morte e do sofrimento a que aquelas pessoas foram sujeitas. O resultado é plasticamente conseguido, constituído por enquadramentos rigorosos que respeitam a integridade dos indivíduos sem sacrificar o simbolismo presente nos espaços e nos rituais de um povo - sérvios e muçulmanos bósnios - que gradualmente reaprende a viver a paz com a guerra ainda muito presente. Mas Diários da Bósnia não esconde também as atribulações da sua produção, e isto reflecte-se em problemas de estrutura que ocasionalmente se acentuam. Desde a voz off do realizador que reforça o propósito diarístico mas que nos larga por períodos longos demais sem razão de força, até à narrativa que a mesma configura e que acaba por ser demasiado neutra no trânsito que faz do presente (98) para o passado (96) e vice-versa. Diários da Bósnia é objecto debruçado sobre um espaço ainda bastante fechado que à semelhança deste dificilmente comunica. Que não consegue fazer integrar o arco da experiência do seu testemunho. Tem instantes, sequências, talvez o possível. Suficientes no entanto para que seja de visão recomendável. Estreia na próxima semana.