12.17.2010

Os limites da ambiguidade
















A impressão que um filme como Stone deixa pode depender do modo como lidamos com a ambiguidade. O realizador John Curran (We Don't Live Here Anymore, The Painted Veil) larga intencionalmente um conjunto de pontas soltas, de sentidos que ficam por completar, contrariando as expectativas geradas por uma história que acaba implodindo, deixando-nos com os seus estilhaços. As tais pontas soltas.
Robert De Niro interpreta um oficial de justiça que tem a responsabilidade de avaliar os candidatos ao regime de liberdade condicional. Stone (Edward Norton) é a alcunha do prisioneiro que Jack entrevista nos últimos dias em funções. A manipulação que Stone exercerá sobre ele, recorrendo à sua muito bela e promíscua mulher (Lucetta/ Milla Jovovich), vai expor a fachada de um homem que usou a fé para reprimir os impulsos mais primários: o sexo e o homicídio. Stone usa por título o nome do presidiário mas o filme é sobre Jack e a intriga liga-se ao prólogo onde uma situação familiar extrema anuncia a queda que está por vir. Também importante nesta obra de John Curran é a presença da religião que se sente por todo o lado, e mais se nota numa América profunda filmada naquilo que tem de mais árido e agorafóbico.
Curran coloca-se formalmente do lado de outros realizadores da actualidade como Andrew Dominik (The Assassination of Jesse James by the Coward Robert Ford), Todd Field (In the Bedroom) ou Marc Forster (Monster's Ball), investindo por uma espécie de realismo atmosférico cuja relevância corre sempre riscos de se perder por entre sinais soprados pelo vento (metáforas, metáforas, metáforas). São objectos marcados por uma complexidade moral que quando não resulta gera pose. E se no caso de Todd Field deu origem a uma das primeiras obras mais importantes do cinema americano da última década, já com relação aos três outros exemplos (este filme de John Curran incluído) tenho as minhas sérias dúvidas. Inquietações de um espectador há vários anos a ver esfumar-se a crença no cinema dos seus contemporâneos.

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