12.15.2010

O mundo vai acabar mas temos tempo para uma chávena de chá
















Não me parece arriscado dizer-se que Mike Leigh não voltará a atingir o patamar cinematográfico de Naked, o seu filme de 1993 que longas carreiras de tantos realizadores não têm para mostrar. Quando misturamos humor com desespero obtemos sarcasmo, algo em que os ingleses se superam de tempos a tempos (lembrar os casos Dennis Potter e Ricky Gervais). No princípio de Naked observamos Johnny, o protagonista, em fuga de Manchester para Londres num carro roubado. Escapa-se a uma mais que certa tareia que descerá sobre ele num beco anónimo da cidade de destino e às mãos (e pés) de um grupo de jovens que lhe batem com o mesmo propósito de desfastio que ele usava quando fodia mulheres casadas e aborrecidas. Johnny (numa interpretação para a eternidade de David Thewlis) é um niilista que necessita de estar em constante movimento. Se não é o corpo que se move, agita-se o pensamento em seu lugar. E sempre com um objectivo de confrontação, como alguém que denuncia o absurdo da existência própria e alheia ao mesmo tempo que as sossega. Viver é estúpido, inútil, sem sentido mas não teremos de andar nisto muito mais tempo: o mundo chegaria ao fim em (sic) 1999.
Existe um segundo niilista neste filme de Mike Leigh. Chama-se Jeremy e vive de rendimentos e para o hedonismo. Camuflado num corpo cuidado em spas e roupas de fino corte, Jeremy também transforma a sua frustração em violência, repertório de agressões físicas mais expressivo que o de Johnny. Naked filma um mundo de gente perdida. De mulheres resignadas e homens violentos (o inverso tembém existe embora seja menos representativo). Um mundo que apesar de todos os sinais negativos teima em não acabar. O purgatório começa aqui.

[A edição DVD da Midas, sem extras, tem uma qualidade de imagem perfeita.]

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