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«A arte é mentirosa, e ai do artista incapaz de mentir. Foi essa a tragédia de Ian Curtis. Narrar essa incapacidade é um dos méritos do filme de Anton Corbijn. O problema não eram as duas mulheres de quem gostava: era a sua terrível honestidade. Tinha nojo de ser dúplice; tinha nojo de ser injusto; tinha nojo de não ser capaz de corrigir o mal que estava a fazer. Foi esse nojo – de continuar a conseguir viver na mentira – que o levou a assassinar-se.
A mania da verdade de Ian Curtis era uma loucura. A exposição emocional que alcançavam as interpretações dele, tornando-as avassaladoras, vem do mesmo excesso moral, da mesma falta de fronteiras entre a alma e o comportamento; entre a introspecção e a sua exibição compulsiva, como entrega e como punição.
(…) Control quer ser um filme e um documentário ao mesmo tempo. É decoroso e respeitador, mas, por outro lado, fugindo à grandiosidade e ao romantismo próprios da música dos Joy Division, também é tímido e diplomático de mais.»
Miguel Esteves Cardoso, Actual, Expresso , 10/11/07