11.12.2007

Desabafo sobre o actual momento do meu Sporting

O resultado de ontem, em Braga, de tão pesado que foi, tenderá a ser visto como um caso isolado. Obviamente que não é. Faz parte da marca de irregularidade que o Sporting tem apresentado ao longo do primeiro terço deste ano desportivo. E deixa-me preocupado. Sobretudo por aquilo que de especulativo pode contribuir para agravar o momento presente. Vejam bem. O que sabemos nós do que se passa no Sporting? Apenas aquilo que observamos nos jogos e aquilo que lemos na imprensa. Ainda assim arrisco o diagnóstico: cuidadoso e claro está parcial. No meu entender, os principais clubes portugueses (aqueles que apelam à gula mediática) sofrem de uma debilidade estruturante ao nível da comunicação. É preciso dizer mais, falar mais claro, para que não se invente sobre o vazio de informação. Uma vez que não existem até hoje canais privilegiados pelos próprios clubes – à excepção dos jornais, que são sempre auto-celebratórios e pouco objectivos –, muitas vezes somos levados a encontrar as explicações mais superficiais para justificar os resultados desportivos da nossa equipa. Também tenho as minhas, que partilho de seguida. A irregularidade do Sporting poderá decorrer, na minha opinião, de (uma de) duas ordens de factores: ou a equipa técnica não dá mais ou o plantel não dá o suficiente? Inclino-me para a segunda hipótese. Acredito que Paulo Bento (e restantes elementos) terá de acumular experiência sobretudo para os jogos internacionais, mas neste momento (que reporta ao início da sua prestação enquanto treinador da equipa sénior do Sporting) já é capaz o bastante para consumo interno. A enfermidade passará então pelo plantel. Onde ficámos sem Nani, Tello e (PRINCIPALMENTE!) Caneira e fomos buscar jogadores que tardam em dar qualquer espécie de contributo minimamente relevante. A agravar a situação temos um Moutinho esgotado (sempre a jogar e com responsabilidades acrescidas enquanto marcador de penálties e, bem mais importante que isso, enquanto capitão de equipa); um Miguel Veloso deslumbrado com a possibilidade de se mudar para outro campeonato e um Djaló cheio de pólvora… seca. Não esqueço as lesões de Pedro Silva e Derlei mas olho para o banco do Sporting, ontem, e para o do Braga, no mesmo jogo, e tenho de admitir que somos equipa mais para o campeonato deles (e do Benfica; não se iludam com o descalabro boavisteiro) e menos para o do Porto. Que vale Gladstone, que não joga? Que vale Celsinho, que não deixam jogar? Que vale Adrien, que após entusiasmante pré-época esconderam nas camadas inferiores? O que valem aqueles que jogam – tanto quanto nos foi dado até agora a perceber – é muito curto para as expectativas do clube a curto-médio prazo. E se estamos a investir num plantel para dar alegrias só na próxima época, ou na época depois dessa, alguém devia assumir isso para quem quisesse ouvir. O mercado reabre em Janeiro e ficaram cerca de 2 milhões de euros para investir, tendo em conta a verba cabimentada inicialmente decorrente do negócio feito com o United. Não posso garantir que sei qual o sector mais necessitado. Mas vamos por eles. Na baliza temos Stojkovic (um keeper à imagem do clube: inseguro, irregular, capaz da mais espantosa bravura e do falhanço menos desculpável), Tiago (guarda-redes de qualidade média, e só) e Rui Patrício (enorme potencial mas não o queimem já com a máxima responsabilidade; olhem para o que o Benfica fez com Moreira e tirem ilações…). Na defesa, o mistério adensa-se… Acredito nas qualidades de Gladstone e acho que é pelas laterais que somos mais vulneráveis (ontem viu-se). Abel é um herói. Anda a jogar no limite há demasiados jogos e sendo ele grande profiissional não se lhe pode exigir mais. Já Ronny vai registando uma evolução demasiado lenta para as necessidades do clube e quando joga sob pressão normalmente expõe-se nas suas limitações defensivas. Contratámos Had, só que ou não lhe dão oportunidade de mostrar mais ou é outro caso de adaptação adiada (onde o Sporting é pródigo a condescender). O coração e pulmão do leão - no meio-campo - podia disfarçar as debilidades do resto da equipa, não estivesse já ferido da quebra de intensidade dos principais artistas (Moutinho e Veloso), na inconsequência do brilho esporádico de Vukcevic e Izmailov (rematadores de constância adiada; construtores do jogo que se vê demasiado pouco) e na dependência da geometria descritiva de Romagnoli, ultimamente previsível. Posto isto, é lá à frente que o Sporting mais sofre porque menos produz – quanta lenha não é preciso pôr na fogueira para que os resultados apareçam? Liedson é um fora-de-série: já sabíamos; continuamos a saber. Mas NÃO CHEGA. Se Djaló corre sem sentido. Se Purovic pouco ou nada se mexe. Se Derlei está preso por fios. Como pensa o Sporting garantir o sucesso desportivo que todos desejamos? Temos Varela em Espanha; Saleiro em Fátima: nada garante que fariam melhor do que os que lá estão. Mas haveria outros por onde escolher. Assim é Liedson, sempre Liedson e só Liedson. Se temos dois milhões para gastar, corram a buscar um avançado robusto e com mobilidade. É preciso que alguém rebente com as defesas adversárias para que Liedson não tenha invariavelmente, pelo menos, dois à perna. Sei que não é tarefa fácil, muito menos para mim que não sou rato de espreitar todos os campeonatos. E não me pagam para que o faça. Posso sublinhar a sugestão inicial: se o Sporting quer proteger a equipa técnica e os seus jogadores tem de falar mais, antecipando-se ao que outros possam falar do pouco que sabem. Há que ser mais realista em relação às perspectivas de sucesso de um plantel que goza do investimento que goza e responde da forma como responde. Longe da regularidade e a necessitar urgentemente de encontrar um ou mais patrões dentro de campo (a dependência de Bento em relação a Moutinho é a total inversão do que seria lógico), é preciso encarar o Sporting 2007/2008 por aquilo que é: uma equipa que oscila entre o muito bom e o mau e que é frequente fazer passar as duas faces dessa realidade no mesmo jogo.

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