11.17.2006

Os homens dominantes




















Há algo de irreal na cena passada diante dele, como se estivesse a assistir a um drama desde a geral de um teatro. Sentirá ciúmes do doutor Durkin? Este é jovem, de boa aparência e solteiro, e Bertha encosta-se mais a ele do que alguma vez fizera a Breuer. Não! Não sente nem um mínimo de ciúmes ou animosidade. Pelo contrário, sente-se amigo e próximo de Durkin. Bertha não os divide, aproxima-os numa fraternidade de agitação. (...) «A placa de bronze, o meu consultório em Viena, a casa da minha infância e agora também Bertha: todos continuam a ser o que eram; nenhum deles precisa de mim para a sua existência. Sou incidental, permutável. Não sou necessário para o drama de Bertha. Nenhum de nós o é, nem mesmo os homens dominantes. Nem eu, nem Durkin, nem aqueles ainda por vir.» (...) Pela primeira vez, compreendeu que ele e Bertha eram colegas de sofrimento. Ela também não se transformara no que era. Não escolhera o seu caminho; pelo contrário, testemunhava as mesmas cenas a repetirem-se incessantemente. (...) Nietzsche estava errado! Breuer não era vítima de Bertha. Ambos eram vítimas. (págs. 276/277)

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