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Curioso notar que da aparente irrelevância do que acontece nos primeiros episódios da quarta temporada de Mad Men, se opera outra maior revolução como aquela anunciada desde o começo da série. Com a agência nova de que é um dos parceiros e encontrando-se recentemente divorciado, Don Draper tem de se reinventar duplamente e uma segunda vez. No mercado dos homens ele é o produto oferecido para manter anteriores clientes e atrair negócio. No mercado das mulheres ele passa a representar uma cobiça sem pecado: não que o pecado tivesse obstado às escapadelas de homem casado. Mas até o homem de capa rija como Draper precisa de um lugar ao qual regressar no final do dia, e chega a ser penoso ver que sob a imagem impecável, um pouco desgrenhada e cambaleante em algumas noites, está um farrapo humano igual a qualquer outro. E é cada vez mais difícil para Don Draper se esquivar por entre os pingos da chuva. Ele despreza o mundo que o tenta sugar e quase não existe mais a família que lhe oferecia certa imunidade: um reflexo de decência agora vazio, que o fato tapa mas que não esconde. É horrível estar no mercado. É um castigo.
Nota: Giorgio Armani criou a sua marca em 1975, não podendo ser contemporâneo destes Mad Men. A impossibilidade histórica não belisca no entanto o sentido do título.