8.04.2011

Minha Dame June Tabor


























Esteve algumas semanas incompleta a minha discografia de June Tabor. Faltava o último disco, Ashore. Não falta mais. Desde Angel Tiger (1992) que a lista de músicos que colaboram nas gravações de June Tabor se mantém tendencialmente inalterada. Isto condicionou a homogeneidade dos registos daí para a frente cuja equivalência nos resultados contribui para a dificuldade de dispensar algum. Ashore recupera a transparência dos critérios que determinam a construção de um disco de June Tabor. O acordeão (Andy Cutting) predomina nos tradicionais antigos; as canções deste tempo são servidas pela voz e piano (Huw Warren) enquanto elementos que se destacam. As interpretações de June Tabor são decisivas para gerar a boa confusão. Cada música vai projectar-se na obra por inteiro, como se ela tivesse sido sempre assim. Ou quase. Se por exemplo pensarmos na gravação com a Oysterband, Freedom and Rain (1990), que não destaco por mero acaso mas porque no próximo mês de Setembro surgirá o segundo registo que resulta desta colaboração, intitulado Ragged Kingdom, June Tabor alimentada pelo fulgor folk rock chega a ofuscar o fogo pálido das interpretações de Nico com os Velvet Underground e a solo. June Tabor poderia ter sido uma diva do rock alternativo não tivesse optado por perseguir as raízes do cancioneiro britânico dos amores que se perderam no tempo. E foi precisamente nisso que ela se tornou: numa espécie de boa feiticeira ou boa senhora de todos os tempos (intemporal) que através do seu trabalho na música criou uma intimidade forte com quem a escuta e à sua voz serena e compassiva. Um álbum como Ashore que tem o mar sempre em fundo parece confirmar a nossa condição de eternos náufragos do amor. Por cada um que se "salva" são incontáveis os que continuam à deriva.

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