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Filme que mostre o plano subjectivo de uma cabeça acabada de ser decepada (o que o olhos supostamente vêem quando a cabeça rola e a vida se apaga) suscitará em mim, sempre, um repúdio superior a qualquer entusiasmo que venha antes ou depois desse instante obscenamente gráfico. E Apocalypto é um filme impressionante. E Apocalypto é também um filme de carniceiro, Mel Gibson, que mantém o nível dos seus pergaminhos. Nada de alegorias com ele. Ou talvez apenas uma... Um par de testículos estripados a um animal é um par de testículos. Um coração humano esventrado é um coração esventrado. Um crânio aberto e a esguichar sangue é um crânio que não pára de esguichar sangue. Mas um homem tanto pode ser o predador como se tornar na coisa caçada. Em Apocalypto, o mau gosto e o meu gosto são tangenciais: atracção pela brutalidade destruidora e instintiva da besta humana. Daí que eu goste e não goste do filme.